Antunes Filho

Antunes Filho
Antigona

segunda-feira, julho 11

DIA DE SUÍCIDIO



Márcio Guimarães





Cor vermelha. Piso frio – a Morte na janela. Acordei. Tinha certeza que hoje seria o dia. Olhei para o teto, segui com o olhar as rachaduras que vinham até a janela. Estava aberta. O sol nascia fazendo uma insuportável claridade. Estava lá diante dos meus olhos – me esperando. Um medo inexorável me cortou a alma, uma angustia interminável envolvia-me todo o corpo. Era uma imagem horripilante e medonha. Parecia que o mundo tinha parado, que todo o resto tinha parado; ninguém na rua, nenhum barulho – apenas um silêncio nostálgico. Olhava-me profundamente. Era um pássaro negro, pousou sobre a janela e olhava-me. Profundamente. Muitas coisas vieram em minha mente: Minha infância solitária, as falsas amizades que construí, o tempo que desperdicei com coisas inúteis, os personagens que criei, o amor que tanto lutei; meu fiel Rex, as telas que nunca terminei – minha família. Todos juntos num redemoinho de sentimentos. Tive náuseas. Voltei à realidade e ainda estava lá. O pássaro. Minhas mãos estavam geladas, escorregadias; meus braços doíam, meus ombros, como se carregasse alguém sobre eles. Uma Cruz. Levantei-me, o chão estava escorregadio – frio. O que estava espalhado pelo piso era vermelho e espesso. Não consegui sustentar-me. Caí. Fiquei por longos segundos encarando o pássaro. Meus pulsos doíam. Olhei para o teto e para as rachaduras. Tudo foi ficando escuro. Nada mais restava – nem o amor, nem a esperança; apenas a Morte na janela. Vendo a cor vermelha – no piso frio.

FIM



















A peça terminou,

as cortinas se fecharam
todos se foram...
A luz está apagada
há apenas o silencio.
Cadeiras vazias,
a sala vazia...
e num canto solitaria,
a protagonista observa
cada espaço antes ocupado.
O palco? Seu coração.
O drama encenado?
Sua propria paixão.





(Texto escrito por minha amiga: Luna - http://lua-di-sangue.blogspot.com/ - Fotografia do meu amigo: Bruno Vecchiato)

domingo, julho 3

Ela está Aqui



MÁRCIO GUIMARÃES



Tenho medo desta alegria repentina. Deste sentimento bom que conforta o meu ser fazendo-me transcender a alma – por que eu sei, ela vai chegar. Mais cedo ou mais tarde. Ela grita em meus olhos e ecoa em meus sentidos. Mas estou bem. Sim, estou bem – estou bem?! Tento camuflar e ela grita – grita das profundezas. Não há pressa. Ela espera o momento exato para entoar suas fúnebres canções de Outono – canções anacrônicas. Tento subir uma escada com falsos degraus. Uma escada em espiral feita do ébano. Chego ao Paraíso. Mas nele não há anjos. Festejo, canto, choro, bebo, percebo, trabalho, como, danço – Amo. Ela está Aqui. Eu sei que está. Está a minha espera, num deslize emocional ela agarra minhas pernas e puxa-me escada abaixo. E assim chego ao limo da minha existência. É frio e escuro neste lugar. Não há janelas – apenas mofo pelas paredes rachadas.