Márcio Guimarães
Cor vermelha. Piso frio – a Morte na janela. Acordei. Tinha certeza que hoje seria o dia. Olhei para o teto, segui com o olhar as rachaduras que vinham até a janela. Estava aberta. O sol nascia fazendo uma insuportável claridade. Estava lá diante dos meus olhos – me esperando. Um medo inexorável me cortou a alma, uma angustia interminável envolvia-me todo o corpo. Era uma imagem horripilante e medonha. Parecia que o mundo tinha parado, que todo o resto tinha parado; ninguém na rua, nenhum barulho – apenas um silêncio nostálgico. Olhava-me profundamente. Era um pássaro negro, pousou sobre a janela e olhava-me. Profundamente. Muitas coisas vieram em minha mente: Minha infância solitária, as falsas amizades que construí, o tempo que desperdicei com coisas inúteis, os personagens que criei, o amor que tanto lutei; meu fiel Rex, as telas que nunca terminei – minha família. Todos juntos num redemoinho de sentimentos. Tive náuseas. Voltei à realidade e ainda estava lá. O pássaro. Minhas mãos estavam geladas, escorregadias; meus braços doíam, meus ombros, como se carregasse alguém sobre eles. Uma Cruz. Levantei-me, o chão estava escorregadio – frio. O que estava espalhado pelo piso era vermelho e espesso. Não consegui sustentar-me. Caí. Fiquei por longos segundos encarando o pássaro. Meus pulsos doíam. Olhei para o teto e para as rachaduras. Tudo foi ficando escuro. Nada mais restava – nem o amor, nem a esperança; apenas a Morte na janela. Vendo a cor vermelha – no piso frio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe seu comentário...